quinta-feira, 21 de julho de 2011

Pintura, um impasse

Se conhecêssemos toda a história da arte e compreendêssemos tudo até Picasso, e de repente nos deparamos com uma tela cubista do artista, em pânico enxergaríamos o ponto final da pintura. “O homem” chegou ao máximo do que a pintura podia dar até então, subvertendo a profundidade de campo (para usar um termo da fotografia) sem fazer uma pintura chapada. Em Picasso temos vários ângulos em um ângulo só.

Gris, Juan
Portrait of Picasso
1912
Oil on canvas
93.4 x 74.3 cm. (36 3/4 x 29 1/4 in.)
The Art Institute of Chicago
(DC 13)
fonte: 
http://www.artchive.com

Pollock, como sem ter para onde seguir, deve ter se desesperado, assim como todos os pintores que viram o gênio de Picasso (e Braque também, vamos dar os créditos devidos) chegar ao ponto extremo, final.

Mas de súbito, em inspiração transcendente, Pollock concebe sua série de telas, nas quais pintava no chão, através do aperfeiçoamento da técnica das “drip paintings”. É o último suspiro da pintura. Jackson Pollock acrescenta um ponto final a mais, logo depois do espanhol. Ele conseguiu esticar o fim que se pensava ser primazia de Picasso.

A pintura é no seu ocaso, sinestésica e “não tem começo nem fim”, para citar uma crítica pejorativa sobre as telas de Pollock que acabou sendo um elogio e fundamental para conceituar essa nova espacialide e estética proposta pelo norteamericano.

Pollock, Jackson
Number 1, 1949
1949
Enamel and aluminum paint on canvas
63 in x 8 ft 6 in (160 x 259 cm)
The Museum of Contemporary Art, Los Angeles
fonte: http://www.artchive.com



Não conseguimos desde o expressionismo abstrato peculiar de Pollock ultrapassar essa barreira. Não sabemos ainda se os pontos finais de Pablo Picasso e Jackson Pollock são dois pontos: e temos o fim da pintura. Ou acrescentar-se-á um terceiro ponto. O Ponto de reticências. Simplesmente não sabemos, não temos respostas.

Esse impasse da pintura é uma das questões fundamentais porque ainda não conseguimos definir com precisão onde termina a arte moderna e começa a contemporânea.

Duchamp, Marcel
Fountain
1917 (original lost)
Readymade: porcelain urinal
Height 60 cm
Philadelphia Museum of Art

fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f6/Duchamp_Fountaine.jpg/437px-Duchamp_Fountaine.jpg


Duchamp e Man Ray de há muito, antes mesmo de Pollock, chutaram o “pau da barraca” e abdicaram da pintura para fazer arte. Eles tomaram partido pelos dois pontos: o fim da pintura. E ao mesmo tempo colocaram o terceiro ponto (reticências), para termos...Arte, arte contemporânea, arte pós-moderna.

Fortaleza,Ce, julho de 2011


Links relacionados: