Alguém postou no Facebook a seguinte frase: “Como se fosse possível Estrigas morrer.”
Acho perfeita. Estrigas (1919-2014) se vai, seu corpo virará cinzas e será espalhado no famoso baobá que fica no seu sítio no Mondubim e não há o que se fazer sobre esse fato.
Mas como ocorre com todo grande artista, a obra de Estrigas fica para sempre. É inestimável seu legado.
Sua obra pictórica é singular. Parte da figuração e caminha numa transição serena para o abstracionismo lírico, sem, contudo, nunca perder totalmente o contato com a figuração.
Ontem parei por alguns momentos no painel em mosaico que fica no Moinho J. Macedo (no caminho da Praia do Futuro). Sempre reparo naquela obra. Foi meu primeiro contato com o trabalho de Estrigas.
É magnífico ver como a imagem vai se transformando sutilmente numa quase abstração. A figura não é mais absoluta, Estrigas não precisa copiar a realidade, ele parte dela para nos fazer sonhar em nuances de cores e linhas.
Se considerarmos apenas a obra pictórica de Estrigas já teríamos muito, mas ele foi além. Tanto com a criação do Museu em seu sítio em parceria com a companheira Nice (também artista singular), com as orientações aos novos artistas que lhe procuravam, com sua atuação fundamental na SCAP e, principalmente, no meu entender, com sua obra escrita sobre arte.
Quem quer conhecer sobre as artes plásticas cearense do século XX até o presente, têm que passar necessariamente pelos registros, estudos e crítica de Estrigas.
Acredito que até o próprio Estrigas não tinha a dimensão da importância desse trabalho.
Registrar a história e analisar criticamente a arte é um trabalho difícil e quase não reconhecido no Ceará. Estrigas fazia isso sistematicamente e com obstinação.
Nada melhor que alguém que vivia concretamente a arte do Ceará e foi próximo a artistas fundamentais no Brasil como Antônio Bandeira (1922-1967) e Aldemir Martins (1922-2006) – apenas citando alguns – para dar seu testemunho.
Um testemunho que não tem preço e que servirá de fonte inesgotável de arte e cultura para as próximas gerações.
O futuro da cultura, em especial das artes plásticas cearense, deve muito à Estrigas. Embora tristes diante de sua perda, a poucos dias, sejamos gratos e contentes pelo legado inestimável que deixa de herança à Arte Cearense.
Obrigado Estrigas.
Fortaleza/CE
Outubro de 2014.
Enio Castelo